CARPE DIEM

"Aproveite o momento" ; "Colha o dia " . "Aproveitar a vida e não ficar apenas pensando no futuro." SEJA BEM VINDO!!!

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A VIOLETA E A BORBOLETA




“Assentado em uma cadeira
Sobre a mesa, repouso minha maleta
Em estado somente meu,   e em gesto contrito
Tenho em  mãos meu manuscrito.

À  janela à minha frente,  descansa  meu olhar
E um sentimento  a fervilhar, em mim a  mergulhar.

É fim do dia
E no coração o amor faz moradia
Da revoada de  pássaros colho pra mim a melodia

Apesar de forte minha  rebeldia
Em minhas mãos , se achega o sol que erradia

E uma visita inesperada
Deixando a vida bem temperada
Renova-me  as forças em alegria

É borboleta em minha janela
É calmaria é toda bela
Longe de ser obsoleta
É toda minha ,
Somente minha
A  borboleta,
Minha  preferida
É violeta, é borboleta!"

(Cícero Aarão)

sábado, 4 de maio de 2019

O VENTO NA JANELA




“Um anjo me visitou . Numa dessas manhãs em que o sol não perde o hábito de repousar em minha janela, ele se chegou a mim ,  de igual modo como de algumas outras vezes , assim que acordava . No entanto, dessa vez , para minha surpresa, não veio sozinho . Trouxe consigo uma amiga . Ela vinha logo atrás de si e, de forma silenciosa, deu  início a um  passeio por todo meu quarto , enquanto eu, ao avistá-la , ia me recompondo, não perdendo a oportunidade de contemplá-la  . Ela . por sua vez, depois de  seu gesto simples , adentrando em meu mundo,  tornava-se pouco a pouco mais íntima de minhas coisas e , finalmente , desejosa de estar mais próxima de mim , veio até a cabeceira de minha cama , ficando ao meu lado .  A inevitável aproximação fez com que eu não resistisse e, por isso , tinha os olhos voltados tão somente para ela, tamanha era  sua beleza . Uma beleza incomum . colorida, muito colorida , a ponto de provocar em  qualquer um que a visse , fascinação . Mas o fato é que não existia qualquer outro ser naquele momento que pudesse admirá-la , senão eu próprio . E ela estava ali, bem perto de mim , ao meu lado, querendo ser vista, admirada ... O desejo dela era o meu ; e era de uma simplicidade enorme; de desejar o belo ,  mas o belo que viesse da alma , da própria essência do ser ; um belo que estivesse acima daquele ao qual estamos acostumados e parecemos nos contentar, sem, contudo, atentarmos , para o além do que somos capazes de ver .  
Ela descansava ao meu lado e eu a admirando . E o anjo , um pouco atrás , instrumento daquela beleza incomum que trouxera, nos admirava. Éramos três e os três se tornavam um , intimamente ligados um ao outro , talvez de forma inconsequente .
O quarto não era mais apenas um quarto , mas o quarto . Um vento harmonioso tomava conta de todos os cantos e seguido a tudo isso , a paz .
Eu fechara meus olhos por alguns instantes e após um breve descanso que meu corpo e mente mereciam, ao despertar , me dei conta de que ela com  sua beleza descomunal ainda permanecia ao meu lado , como que a zelar por mim . Antes que eu insinuasse me levantar da cama , ela, de forma antecipada, retirou-se e munida de sua delicadeza, se dirigiu à janela , a mesma por onde resolvera entrar naquele dia . Assentei-me na beirada da cama e continuava a observá-la . Antes de tomar qualquer atitude , percebi que o anjo se juntara a ela . A partir de então, tive a certeza de uma despedida . Diante da certeza , olhei para o lado oposto, atraído por um pequeno barulho e ao voltar meus olhos para o anjo e ela , à janela , me deparei  apenas com  a cortina em movimentos de vai e vem por causa do vento .
Tive um aperto no coração como nunca havia sentido em minha vida . Uma confusão de sentimentos me sobressaltou; angústia , desejos; sonhos ... saudade . Jamais me esqueceria daquele instante vivenciado por mim .
Todos os dias , pela manhã , fico à espera dela . Uma espera contínua .  O meu olhar agora limita-se à janela , à cabeceira da cama ... Mas a minha memória , Ah,  a memória!  é viva e colorida , muito colorida ; um colorido diferente dos demais já vistos por alguém . Ela era incomparável . Ela era a minha borboleta , aquela que encantou a minha manhã certo dia , com seu colorido deslumbrante . Eu ainda posso sentir o pólen que trazia consigo à minha cabeceira ,  e  ainda  sinto o frescor de suas doces asas . Ela era mais que uma simples borboleta , pois a sua beleza estava além de si . A sua beleza era a essência contida no dorso das asas., A beleza daquela borboleta, à janela , a me fitar , era a alma . A minha borboleta tinha alma e eu podia vê-la e sentí-la.”
(Cícero Aarão)