CARPE DIEM

"Aproveite o momento" ; "Colha o dia " . "Aproveitar a vida e não ficar apenas pensando no futuro." SEJA BEM VINDO!!!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Um beija-flor

 "Houve um tempo em que um beijo-flor visitava minha varanda. Sabe lá Deus por onde voa. Outro dia, perguntei a um louva-deus que me visitava repentinamente, mas desconversou dizendo apenas que aquele devia estar voando por á, em busca da felicidade, assim como eu."

(Cícero Aarão) 

domingo, 22 de novembro de 2020

ROUBO

 

“Eu queria um beijo teu ...

E teria que ser roubado .

Que me afastasse o jeito afobado,

Deixando-me, contudo, perturbado.

Quem sabe abobado.

Não importa ... Nem me sinto, por isso,  incomodado

Muito bem sei  que sou mesmo mal amado...

 

Eu queria ...

Um beijo roubado

E pouco haveria de me importar com o autor desse delito, diga-se de passagem,  perdoado

Um roubo que nos deixa o coração aprisionado.

 

Um beijo roubado ..

Ah, como eu queria !

Quem sabe eu cantaria

Um canto português , um belo fado?

 

Eu queria ser roubado

E por um beijo teu

Que seria somente meu

 

Rouba-me, pois , a alma com um beijo apaixonado

 

 

Deixa-me, se quiser, encabulado .

Ah,  um  beijo muito esperado!

Um estalo e pronto, estou carimbado.

 

(Cícero Aarão)

CONTRASTE

 


“O negro de tua pele a contrastar a minha

E o negro de tua alma que se assemelha à minha .

Ah, eu vejo um negro sem fim na escuridão

Sinto-me negro e pleno a inundar a noite .

E o negro que a vida nos causou ?

 Adentro, num segundo,  o túnel negro que parece sem fim ...

 

Ah, o negro de teus cabelos e olhos

Quero o negro de tua essência

Quero tua pele negra a contrastar a minha.”

(Cícero Aarão)

 


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

SEM DESPEDIDAS ........

 


Um dia, ela fora importante na vida daquele homem. Mas as coisas mudaram. Ele a apagou de sua vida. E assim como quem apaga a luz e sai do quarto simplesmente, para não mais voltar, desse modo ele o fez, saindo da vida daquela mulher .”

(Cícero Aarão)


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

PORMENORES

 

“Não foi um acaso,

nem um caso qualquer.

Mas, talvez, por acaso,

mal tratado, um descaso!”

(Cícero Aarão)


COLIBRI

 

És um encanto
Que de meu canto
Quero acalanto 


Um doce encanto 
Um colibri-de-canto


O desencanto
Que gera um pranto 
Também a tudo abate e encanta 


E em meio ao pranto
Que tudo encanta 
O teu encanto, tudo abrilhanta . 

(Cícero Aarão)

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

COMPANHIA

 


..."De repente, a vontade de chorar lhe roubou os sentidos ... e a chuva apenas chegou para lhe fazer companhia ."

(Cícero Aarão)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

UM SONHO

 

Ah, a primeira vez !
A primeira vez que vi teus olhos, pareciam-me compenetrados
Fitos nos horizontes ...
 
Os teus cabelos, levemente ondulados e negros
A repousarem, mansamente, sobre teus doces ombros
 
A tua meiga face , um olhar de soslaio
E meus olhos a percorrer , mesmo distante de ti , teu rijo pescoço
 
Quero de tua alma , um desenho, contento-me com tão somente um esboço
 
Encantar-me com tua fala certeira
E um breve olhar , um olhar  sem fronteira ...
 
Ah, teu corpo sobre tua cama
Que  uma saudade deixa ... derrama  ...
Um leve sorrir
Um sonho auferir

(Cícero Aarão) 
 

PRA MIM

 


Eis-me o tom negro de tua pele

E que me deixa a flor da pele

Eis-me tua pele sobre a minha, toda negra

És, talvez, uma pantera- negra

 

Além do encanto do teu negro encanto

Quero de teus braços um acalanto

 

De teus cabelos, quero tuas tranças

De teus gestos mansos , e sobre teus ombros, tuas nuanças

 

Apossar-me de teu corpo sobre tua cama

À espera de mim e quem tanto ama

 

De tua boca carnuda

Um beijo e a alma desnuda

 

O pontiagudo  de teus seios voltados pra mim

Quero-te toda minha e uma história sem fim. ...

(Cícero Aarão) 


terça-feira, 16 de junho de 2020

ENCANTOS




Eis-me o dia
Eis-me as pétalas de rosas, azaléias e margaridas ...
Eis-me o néctar que a vida me oferta
E tens a alma liberta
Eis-me o doce do orvalho
Que me escorre pelas mãos , à procura do chão da terra
Eis-me Dulce e o doce da vida
Das palavras que ecoam de teus lábios, como orvalho a regar uma  flor ...
Eis-me teus sonhos encantados de menina
Que  a tudo aglutina     

Eis-me os campos
E todos os recantos
Eis Dulce com todos os encantos.


(Cícero Aarão) 

sábado, 6 de junho de 2020

A FOTO




“Quando vi sua foto , pude ver outra mulher . Tinha um olhar sereno e trazia consigo uma paz sem igual . Estava diferente . Via-se , claramente que algo a transformara, algo a fizera se desvencilhar , talvez , do passado. Quando vi sua foto, embora não expusesse um sorriso largo , mesmo assim eu podia vê-lo. Seu sorriso estava na alma . Eu conseguia vê-lo por guardar em mim sentimentos onde somente a alma é capaz de compreender .
Naquela noite, quando vi sua foto , eu via outra mulher . Uma mulher onde apenas eu conseguia ver . Era uma outra mulher ....Sim , uma outra na mesma, pois a mulher era você própria . “

(Cícero Aarão )

sexta-feira, 22 de maio de 2020

UMA TAÇA DE VINHO




“Os últimos anos, aquela mulher, não tinha outra alternativa, senão  recorrer  à taça de vinho tinto. Além dos ressentimentos que levava consigo nesse momento único, recostada à beira da cama , tendo a velha garrafa de vinho sobre a cabeceira, guardava dentro de si uma mágoa profunda pela falta de reconhecimento, ao longo do tempo,  do homem que era seu companheiro.  Um companheiro sem o brilho de antes. Uma companhia que se limitava tão somente  à presença física na casa. Não havia mais diálogo entre ambos . O único diálogo existente para aquela mulher , agora , era a taça de cristal e seu velho tinto .  Antes, porém,  de sentar-se, desejosa de saborear a bebida , ouvia os últimos passos do homem com o qual conviveu que, embora vivesse ali, a poucos metros do seu quarto – estavam separados de corpos – remetia à sua mente as poucas boas  lembranças de uma   convivência de anos que deixou, lamentavelmente,  prevalecer desilusões e uma infinidade de brigas .
Aquela mulher não nutria mais prazer em quase nada na vida . A taça com seu vinho tinto era, a partir de então,  o seu maior prazer . Duas taças seguidas eram o suficiente para desfrutar desse instante que julgava ser sublime  e não seria capaz de trocá-lo por nenhum outro.  Era o encontro consigo mesma . Um encontro com a própria alma , de forma indescritível, onde entre um gole e outro , deixava ecoar baixinho uma gostosa gargalhada. Ria de si mesma, ria da vida que levava até ali, mas sentia-se , por um momento, talvez, feliz, muito feliz .”

(Cícero Aarão)                                             



UM SUSTO




“A morte anda passando aqui por perto de algumas pessoas. Com algumas, deu apenas um leve sorriso, levando-as , em seguida, para bem longe. Com outras, ah, com outras julgou não merecerem a sua doce companhia, dando-lhes apenas um susto, deixando-as adormecidas por um tempo. E o tempo foi sempre.
Por causa do grande susto, os que permaneceram aqui, quando acordaram, acreditaram ter sido somente um desses pesadelos que nos atormentam a mente ao longo de um bom período, nos atiçando o prazer de compartilhá-lo com outrem."

(Cícero Aarão)

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O ENCONTRO




“Eu já tive um encontro com o abismo
E nesse encontro, estávamos no fim da linha .
Nós nos estreolhávamos  fixamente
E passamos um longo tempo pensando em muitas coisas.
Ocorre, entretanto, que, depois de muito refletir,
O abismo se afastou de mim e eu dele .
Foi uma luta que parecia infindável.
Mas ficamos distantes um do outro.

De vez em quando, passo perto do lugar do nosso encontro.
Porém, mantemos distanciamento;
Ele lá e eu cá. “

(Cícero Aarão)

SESTRAS




“Eu me  debruço nas letras
E dispenso as mutretas
Faço, às vezes, versos sem rimas
Mas ao estilo de esgrimas,
vêm as métricas e  dançam as letras.

Quanto a mim, na roda  vou e entro
Com meu jeito de corpo ,
Com olhar de soslaio
No meu ritmo,  minha  ginga,  
No meu pisar forte minhas sestras.”

(Cícero Aarão)

terça-feira, 12 de maio de 2020

GOSTOS




"Gosto desse teu jeito de deixar os cabelos lisos e longos sobre teus ombros, sutilmente. Um olhar de soslaio, um sorriso que aflora a graça contida em alma . Eis-me teu sorriso e a candura da noite ."                             

(Cícero Aarão)

sábado, 9 de maio de 2020

VOA, BORBOLETA !




"Em minhas andanças por aí, me deparei com uma simples borboleta. O bater leve de suas asas me trouxe o frescor das manhãs de regiões distantes de onde me encontrava. Aproveitei esse instante sublime de puro encantamento, para deixar sobre as plantas e flores espalhadas pelo Jardim o néctar de toda minha ansiedade e angústia. E, pacientemente, não fiz outra coisa senão contemplar minha querida borboleta.
Ah, minha doce borboleta! Todos os dias, às primeiras horas de uma manhã silenciosa, recebo sua visita. Quieto, no meu canto, aguardo o momento quando colhe o néctar ali deixado por mim. Deixo-a realizar o seu trabalho e as gotas do orvalho derramadas sobre mim, me alimentam de gotículas de esperança.
Voa, borboleta, voa! Leva sobre suas asas o frescor dos ventos da paz a outros campos.
Voa, borboleta! Mas deixa, sem descaso, um sopro de saudade em mim."



(Cícero Aarão)

domingo, 3 de maio de 2020

OS ASTROS





                  As últimas semanas, as noites, além de tranquilas, proporcionavam-lhe um frescor peculiar jamais sentido antes. Não era de seu hábito se recolher cedo, mas, devido a um cansaço, talvez, inesperado, após degustar um leite quente , composto de canela em pó, tendo como acompanhamento um pão torrado, na manteiga, resolveu ir para o quarto e se deitar . Deitou-se, ficando apenas à espera do sono que dava indícios de sua chegada, aos poucos, sem demora .

                        Não tardou muito, o dia amanheceu com promessas de chuva . As nuvens, avistadas por ele de uma das janelas de seu quarto, surgiam carregadas. Sentado,  ainda à beirada da cama, agradeceu pelo dia que lhe era concedido e após seu momento particular, quando tinha oportunidade de se cuidar de forma silenciosa, rumou para a cozinha para preparar o café daquela manhã cinzenta.  Ligou a tv, posicionada acima da geladeira, em volume baixo, somente para não se sentir demasiadamente sozinho . Embora isso o incomodasse de vez em quando, vinha se acostumando dia a dia com a solidão e muitas vezes, chegava a pensar que preferia que se desse assim . Afinal, não ter ao seu lado quem o importunasse fosse noite ou dia,  era um alívio do qual não queria, de modo algum, se desvencilhar, nem por decreto.

                        Enquanto passava o café na cafeteira e o pequeno pedaço de pão recebia o calor da sanduicheira, sentou-se à mesa para fazer a leitura matinal do jornal eletrônico, na internet , hábito do qual não abria mão , por considera-lo uma obrigação imprescindível.  A página carregava lentamente . O notebook passara a ser sua companhia diária e, por isso, procurava mantê-lo ligado à tomada para que sempre que desejasse, estaria ali, a seu dispor . Tinha paciência de sobra para aguardar o carregamento do site do jornal digital e no instante que aguardava, sempre em silêncio, aproveitava para pegar seu café e pão e, em seguida, de volta ao lugar onde estava o computador, sentar-se à mesa .  Nos últimos meses, criara o costume de ir à sessão dos zodíacos, apesar de não crer muito no universo dos astros. Tinha-os, contudo,  para si, apenas como instrumento de admiração nas suas horas solitárias . Mas deixando a poesia das galáxias que podiam lhe oferecer algum prazer, estava mais interessado naquele momento, em consultar os zodíacos daquela manhã, mais precisamente o signo de aquário .

                        De todos os signos, aquário aguçava um interesse maior para si, afinal, durante boa parte de sua vida, tivera, pelo menos, dois relacionamentos onde as mulheres eram exatamente aquarianas. Cada uma possuía uma forma de ser e pensar, mas certas características contidas em  ambas se assemelhavam .  A última dessas mulheres provocou marcas profundas de sentimentos dos quais não conseguia se desapegar .  A aquariana que mexera com seus sentidos , havia o deixado , tinha alguns meses e, inconformado com o desprezo pelo qual passara, procurava, de todas as formas , encontrar meios que justificassem o fato de ter sido dispensado pela mulher que tanto amou . Por isso, todas as manhãs, durante o café , se davam as consultas  aos signos do zodíaco. Tudo acontecia de modo meticuloso . Fazia um bom tempo que estudava a personalidade da aquariana que, há pouco mais de um ano ou dois , o motivava a viver , a ter brilhos nos olhos . E a consulta aos horóscopos, agora, era um de seus maiores pretextos para desvendar os mistérios que envolviam a mulher com a qual se envolveu .

Algumas das características encontradas no signo, durante sua consulta, associavam-se realmente àquela mulher . Outras, porém, nem tanto. Mas, mesmo assim, a pesquisa que passou a fazer parte da sua vida, o fascinava tremendamente. O fascínio inicial pela aquariana que casusou um rebuliço no seu coração era o jeito carinhoso e bem humorado , assim como a boa educação , qualidades próprias jamais observada por ele em outra. Os dois predicativos atribuídos àquela mulher eram suficientes para se apaixonar. Mas, além desses, o que chamava sua atenção era também a originalidade que ela trazia consigo . Assim como descrito no zodíaco, a aquariana por quem se encantara um dia, olhava o mundo de uma maneira bem diferente e expressava, sempre que lhe era dada oportunidade para isso com a coragem que as demais não tinham, mesmo porque não se importava com o que os outros pudessem dizer a seu respeito. Essa era uma qualidade que determinava a personalidade de “sua” aquariana, fazendo com que se tornasse mais atraente do que já era . E  quando ele se referia à beleza de sua amada, não se restringia ao físico que ostentava, mas a beleza interior, da alma, que aflorava naturalmente, tornando-a mais bela exteriormente. Disso ele está seguro.

Assim eram suas manhãs. Embora tivesse certeza de que não teria mais aquela mulher ao seu lado, não dispensava de forma alguma as leituras matinais do zodíaco. Ao fazê-las, era o modo que encontrava de tê-la mais perto, de tê-la diante de si, tamanha força que criava da imagem da mulher que tanto amava. 

(Cícero Aarão) 



segunda-feira, 20 de abril de 2020

DESENCANTOS





“Todos os dias tinha a certeza de tê-la perdido definitivamente. Não havia mais espaço para ocupar o coração daquela mulher, eis que olhar dessa estava voltado para outro ou para quem se dispusesse a agradá-la realmente. Assim tornaram-se os seus dias;  sem a graça de antes, para aquele homem,  tamanho desencanto . Aquela mulher fora uma grande ilusão em sua vida e continuava sendo.”

(Cícero Aarão)

domingo, 19 de abril de 2020

ENCONTROS





“Encontraram-se novamente . Como de costume, as últimas noites , adentrando a madrugada de outono, travavam entre si conversas amenas, mas capazes de tocar o fundo da alma .  Ela, contudo,  mal conseguia disfarçar o incômodo que causava  a si própria .  E o incômodo lhe surgia.  Não sabia dizer o que era. A  única certeza que tinha era de que aquele homem havia entrado  na sua vida lhe causando profundas mudanças, que, decerto, não eram ruins. Não, não eram, pois ela, mais do que nunca,  precisava. Carecia seguir sua vida, falar de si, das coisas que sentia ... E de todas as certezas que pudesse ter em sua vida , uma  lhe convencera: a das intensas mudanças. Aquele homem chegava mudando todos os sentidos . Uma balbúrdia, talvez passageira, fazia com que aquela mulher não quisesse outra coisa senão fugir. Sim , fugir , mas com um único desejo: de querer que aquele homem continuasse em sua vida .”

( Cícero Aarão )


sábado, 18 de abril de 2020

SOZINHOS





"Passamos, boa parte da vida, sozinhos. E muitos desses momentos , mesmo tendo milhares de pessoas à nossa volta .Quem tem alguém, passa boa parte da vida querendo crer ter esse alguém quando, na verdade,  está longe de tê-la. Às vezes, fingimos ter. Passamos boa parte assustados por coisas que foram feitas por nós mesmos e, ainda assim, não entendemos nada ou não queremos acreditar que podemos entender. Chegamos e partimos sozinhos porque assim deve ser . E se fosse nos dada a chance de retornarmos, ainda assim, retornaríamos sozinhos," 

( Cícero Aarão) .

O CENTRO DO UNIVERSO





"Nós somos semelhantes, talvez, a uma folha qualquer de papel em branco ou mesmo uma nuvem que passeia por um tempo no céu e logo, logo se dissipa. E assim como uma e outra, nos transformamos, subitamente em nada . Quão insignificantes somos diante da grandiosidade do universo e quantas vezes agimos com altivez, acreditando sermos o centro das coisas, quando, na realidade, não o somos. Nunca fomos e jamais seremos ." 

( Cícero Aarão ) 

O VENTO DAS MARÉS





Aquele homem, por um instante, sentiu medo de perder aquela mulher de vista. Sentia-se como um pescador, em seu barquinho, à deriva, no meio do mar. Tivera essa ligeira sensação. Tivera a sensação de que aquela mulher iria partir, que estava decidida à deixá-lo no grande oceano. Uma impressão de que foi ou estivesse sendo algo passageiro ..
que é recusado por alguém a permanecer, embora não tivesse ainda acontecido absolutamente nada, mesmo assim, sentia-se à deriva. Não queria que fosse desse modo, mas não pode evitar. E, por um momento era o homem e o imenso oceano e o vento vazio das marés. "
(Cícero Aarão)

O GATO DE PELO ESCURO





“Ele chegou de repente na vida daquela mulher. Talvez como um gato de pelo escuro, imperceptível, a transitar sobre os telhados das velhas casas, afoito ... ligeiro ... Sim, fora ligeiro na sua chegada. Silencioso, de olhar fito em sua presa, parou de súbito diante dela.
Ela, por sua vez,  perplexa, não pensava em outra coisa senão esquadrinhar os pensamentos da personagem estática na sua frente . Mas não conseguia tal intento e, por isso, limitou-se a apenas admirá-lo,  de longe, pois tinha enorme receios de se lançar às garras daquele gato.  Garras afiadas e certeiras, prontas para domná-la.
Os medos pairavam em derredor. Aquela mulher estava movida aos medos que assombraram-na ao longo da vida. Sofrera o bastante em suas paixões e não queria, de modo algum, se machucar novamente . Não, não estava disposta a se arranhar em outras garras. Preferia conter suas paixões, ao contrários dos devaneios daquele bichano que punha à porta da entrada de seu quarto. Não, elta inha seus medos. Sentia-os. E o gato, ali, parado, à espera do seu chamado, da sua permissão para recomeçar, quem sabe, a vida, uma nova vida. O gato, de olhar penetrante, era um homem. Um homem que chegara em sua vida, repentinamente, querendo-a como ninguém pudesse fazê-lo.
E permaneceram ali, os dois, introspectivos, cada qual em seu mundo, em profundo silêncio. “

(Cícero Aarão)

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O BEIJO



“Eu queria um beijo seu
E meio sem esperança , fico à espera como um ateu .

À tarde, no meio da praça,
Você sumiu, não apareceu .

O  fruto é meu e todo amor,
E eu bem sei, não apodreceu.

Quando vier, leva o que é meu
Tudo que é meu , é tudo seu .

De mim eu sei é toda graça
Canto feliz por toda praça

Quando vier, vem bem feliz
Eu quero assim , eu sempre quis
Terá de mim meu doce beijo
Um beijo doce que é todo seu.”

 (Cícero Aarão)

sábado, 28 de março de 2020

PASSEIO





“...A caminhar, a passos firmes
Sorriso largo , acenos livres.”
(Cícero Aarão )

DÚVIDAS ...





Talvez o dia, para mim não seja
Mas teimo dizer que para mim o seja.
Talvez, ainda, não seja um triste fim
Pois quero para mim
um amor sem fim .
Eu me reservo agora às tardes de um mês de março
de meu outono
de meu outonar de tenras saudades.
Talvez as noites frias sejam um breve acalanto.
E a madrugada mansa, a conter meu pranto.
Se o amor é livre e talvez o seja;
que ouse alguém a voar comigo.
Fazer de mim um coração, um abrigo
Um grande amor e seu eterno amigo ."
(Cícero Aarão)

O TEMPO





"Eis-me o tempo

O tempo do junto, do separado.
Eis-me o tempo do amor
Do amor que me faz distante
Mas me faz sentir mais próximo do que antes .
Eis-me a vida, sem demora
que me renova, me restaura a alma.
Eis-me os sonhos de criança que me tornam mais doce. "
(Cicero Aarão)


sábado, 21 de março de 2020

O JARDIM





“Quem faz pouco caso de mim,
sabe pouco ou quase nada de mim .

entre rosas e espinhos,
colho um pouco de jasmim.

Eu ? Quem sabe não valha nada ou mesmo  um vintém?

Sei, contudo, ser alguém,
sigo, pois, o meu caminho .

Quem quiser o meu carinho,
Chegue a mim e faça um ninho.

Quem me quer bem, mui bem eu sei.
Quem não me quer, bem sei também. 
Mas bem eu sei , ser nenhum qualquer.

Eu, como todos, sabe o que quer .
Entre rosas e espinhos,
colho um pouco de jasmim
Essa vida vou vivendo,
e com muito esmero, cuido bem do meu jardim .

(Cícero Aarão)