CARPE DIEM

"Aproveite o momento" ; "Colha o dia " . "Aproveitar a vida e não ficar apenas pensando no futuro." SEJA BEM VINDO!!!

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

OS LADOS




“Um lado nunca entenderá o outro lado , pois quando se está de um lado é o lado contrário ao outro lado. Mas quando passamos para o outro lado, conseguimos entender o outro e esquecemos do nosso lado.

Jamais um lado será igual a outro lado, mesmo porque se assim fosse, não existiriam dois lados . Ou haverá mais de dois ?

A nós é facultado a escolha de um dos lados. A partir da escolha, , não existe desculpa para dizermos que não há possibilidade de, a qualquer tempo, mudarmos de lado.

O bom nisso tudo é a descoberta do sabor dos dois lados, tendo a certeza de que jamais um lado será igual ao outro, pois cada lado tem seu sabor próprio.

Eu defendo meu lado e o outro lado, o seu. Cada qual do seu lado, crê  estar do lado melhor.  Mas quando escolhemos, é por aquele que mais nos convém. O pior é quando cremos que o nosso lado é infalível, absoluto. Por isso, há momentos onde nos recusamos a passar para o outro lado, ignorando-o completamente.

Eu permaneço no meu lado e ao meu lado fica quem quiser . Eu me dou por satisfeito do meu lado e não faço questão de estar do outro lado. Passa para o outro lado quem quiser e fica comigo, do meu lado, quem desejar.

Os lados parecem combinar apenas quando dois se dão as mãos e caminham lado a lado. Mas se eu der prioridade ao meu lado, jamais viverei o outro lado. “

(Cícero Aarão)


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

EU SABIA ...




- TALVEZ PARA QUEM APENAS ACREDITA –




“Quando menino, próximo ao parapeito da janela de meu quarto ou mesmo em outro canto qualquer  onde pudesse ver a paisagem de fora , nos dias sobretudo chuvosos , de nuvens carregadas, ficava intrigado o porquê de tudo aquilo . Mais intrigado ainda ficava , em ver o cinzento do dia em  uma cidade como a do Rio de Janeiro, minha terra natal, ou outra similar detentora da beleza dos mares e suas praias . Eu sempre achava que tempos assim não combinavam nem um pouco com o Rio de Janeiro , especialmente nas imediações do Cristo Redentor , bem como no Pão de Açúcar . Teimava em achar – e continuo a pensar desse modo – que o Rio só combina com sol e seus raios repousando sobre os mares e a baía de Guanabara . Contudo, esses desejos íntimos pelos quais vivenciamos , nem sempre ocorrem na realidade e, por isso, nos frustramos muitas vezes . Em dias de férias ou feriados prolongados então, nem se fala !  Em dias como esse, somos cerceados de ir à praia ou realizar um passeio numa área verde da cidade .

Mas o fato é que , em uma dessas ocasiões de chuvas torrenciais na cidade , onde as maiores vítimas são as pessoas da comunidade  bem próximas das encostas,  o meu incômodo por aquele mau tempo persistia e embora estivesse incomodado com a paisagem nada aprazível, matutando, continuamente , querendo uma resposta imediata,  à medida que via as gostas de chuva , cheguei à conclusão de que não era raiva , descaso , nem tampouco castigo vindo da parte de Deus , mas sim a tristeza latente do espírito divino que , copiosamente , derramava-se pelas ruas e becos , por todos os caminhos que nos levassem ao mar ou  à montanha . Estava convicto:. Deus chorava muito, muito mesmo . Derramava-se em lágrimas constantes. No meio de choro convulsivo, tamanha emoção que tinha consigo e  silenciosa, vez por outra, deixava cair sobre a terra descargas elétricas , rajadas de vento... Um lamento profundo sobre tudo que via abaixo de seus olhos . A chuva , que se dava de maneira intensa era simplesmente porque Deus chorava de tristeza, de muita tristeza pelos feitos humanos . Eu chegara à essa conclusão  e tivera certeza de que , momentaneamente, Deus não podia ou não queria fazer absolutamente nada , senão chorar, chorar sua dor .”

(Cícero Aarão)


sábado, 12 de outubro de 2019

TEMPO ....




“O tempo passa por mim ... Eu sinto meus passos, deixando a poeira pra trás ... Por onde passei, fiz alguns amigos. Alguns se achegaram sem pressa e sem medida ... Almas entrelaçadas... O vento me traz lembranças...  Os infortúnios da vida, as tempestades arrastam para regiões longínquas, mas como uma tormenta sem fim, batem à minha porta e um mar agitado se faz em mim .

Se a mim fosse dada a chance de reescrever minha história, eu o faria sem demora, pois por onde passei, apesar de minhas pegadas certeiras, ficaram minhas imperfeições ... Eu permaneço em dívida de mim mesmo, pois queria ser muito mais do que aparentei ser , sem, no entanto, o ser exatamente e, como um espinho , quem sabe, cravado em meu calcanhar, caminham comigo as incertezas dessa vida, arrependimentos ; lamentações que me visitam ao adentrar meu quarto, na acolhida solidão.”

(Cícero Aarão)


RESOLUÇÃO




“Na hora certa, eu fico é mudo
Diante de tudo, um borrachudo
Eis-me a mente alucinada .
Atento a gestos, eu sempre escuto e não me esqueço do meu escudo.
É dia, é hora , a caminhada .
E sem demora, eu abro espaço.

Eis-me o lápis e meu compasso.
A minha trilha, eu mesmo traço.

Eu sigo em frente
E todo crente, eu  tomo à frente .”

( Cícero Aarão)

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

ENVELHECENDO.....




"Não quero envelhecer . Mas o tempo não pede licença . Se tivesse forças para conter os ventos do tempo, não envelheceria por fora. Contudo, por dentro, jamais me darei por vencido. Hei de resistir ao tempo, nosso maior algoz .E ainda que a velhice bata à minha porta , afinal , pode ser que ela chegue sorrateira, prosseguirei no meu caminho, continuarei a amar, valorizar o outro ao meu lado e , sobretudo, a mim . Mesmo muitas vezes, sem esperança, não deixarei de sorrir , pois agindo desse modo, hei de me conhecer um pouco mais . Serei um andarilho incansável, em busca da essência que há em mim, espalhando o sorriso a toda gente . Sentar-me-ei no primeiro banco da praça que encontrar , contemplarei a paisagem à minha volta e darei estrondosas gargalhadas . Ao entardecer, quando me der por cansado, por um momento apenas, terei a certeza de quanto simplesmente eu vivo . Com graça, fazendo e espalhando graça... Com os pés, marcando o compasso da música ao longe, sem fazer pirraça, ah, tão somente      viver !"       

           (Cícero Aarão)

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

BEM ASSIM ...




Amanheci hoje assim  : ah,  vontade de sumir ,
O primeiro balde , chutar,  seguir em frente ...
Quem sabe encontrar  alguém pra interagir
Revirar a vida , sem esbarrar em contraparente!

Seguir sem rumo
À luz da lua ...
Vai que  me arrumo
Ou me desarrumo

Meio mundo da lua !
Caminho pela estrada nua ...

Se me dá na telha
Eis-me a centelha
Eu não ligo pois grito feliz !
E no quadro negro, um verso ainda eu escrevo a giz.

(Cícero Aarão) 


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A PRIMAVERA DE DUAS FLORES




Uma revoada de pássaros ecoa por todos os cantos da cidade . São as primeiras horas da manhã, festivas . Semelhante a uma orquestra sinfônica , sob a batuta do maestro, os tons, harmônicos e uníssonos soam de modo perfeito. E tanto uma quanto outra trazem consigo o canto das flores , as mais longínquas, com toda sua graça, além do horizonte onde o olhar humano é incapaz de alcança-lo , mas sentí-lo.  E o sentimento chega a quem se dispõe.  De modo paulatino, às vezes, sorrateiro, se aloja em cada ser .  E um desabrochar de sentimentos aflora da alma .

                É primavera ! Já desponta muito além das montanhas . Uma primavera ainda movida a ventos frios , onde sobre a cama , repousa ainda  o cobertor . São os ventos do sul, vindos com as ondas do mar, ou  de outras bandas, talvez de matas e pastagens  de outras regiões da  América do Sul . 

As ruas encontram-se, ainda , sozinhas , recebendo , contudo, as pisadas dos primeiros transeuntes que caminham à procura  de alguma panificadora  ou mesmo um bar de esquina , onde se possa assentar por alguns minutos , degustar um chimarrão,  um simples café e  vislumbrar a paisagem à sua volta, abrandando  o frio que teima em cortar a delicadeza  dos lábios .

                Pouco a pouco as janelas das casas , com jardineiras no parapeito, se abrem.  A porta da igreja principal da cidade  e o padre , na entrada , de mãos elevadas aos céus, a abençoar a todos que passam , perto ou longe ,  faz  uma prece ao Deus altíssimo,  clamando por paz . Uma contrição breve e um sorriso largo, a contrastar com a batina . Um Deus te abençoe aqui outro acolá  e a sensação do dever cumprido .

                As crianças ainda dormem. Depois da noite na praça com seus cavalinhos de pau e travessuras sem fim . Escorregas, balanços e gangorras, agora , permanecem à espera de outro infante. Enquanto isso,  os brinquedos,  sem meninos e meninas, recebem apenas a visita do orvalho e das folhas coloridas que se achegam, trazidas pelo vento manso , rolando  pela terra, alojando-se ao pé de um banco, aguardando quem deseje se acomodar e se habilite a respirar  os ares frescos da manhã, admirando a paisagem .

                Um pouco afastado da alegria juvenil ,  dos velhos que caminham com suas bengalas e suas dificuldades, trazendo à memória um tempo que ficou,  na outra esquina, do  outro lado da cidade, nos becos , ruelas e bares de bilhar , homens bêbados e largados , de camisas entreabertas , se esqueceram de si e se deixaram entregar  à vida de qualquer jeito , estendidos nos meios fios das calçadas, ignorando completamente os que por ali passam . O guarda noturno, o caminhão da limpeza urbana a recolher os lixos ...Mais um dia desponta e consigo a primavera e o colorido das flores . Entre uma esquina e outra, onde se vê os poucos malandros da cidade de passos e gingas ,  do outro lado da calçada, as raparigas dão o ar da graça, estendendo pequenas peças de roupas no varal da velha casa , onde ganham a vida durante a noite , em meio a conversas de roda assentadas nos colos dos marmanjos vindos, principalmente,  de cidades vizinhas que alimentam  promessas e esperanças de outra vida além dos cabarés.

                A pequena cidade amanhece  e tem semelhanças  às metrópoles. Características de ambas se aproximam, eis que  a única diferença diz respeito ao espaço geográfico. O lado bom e mau do lugar, que se encontra em qualquer canto do planeta, se cumprimentam , se encontram e se  desencontram .









                No meio de tanta gente, Glória é uma dessas ilustres moradoras,  . Possui um negócio há alguns anos que a mantém financeiramente . Trabalha com hospedagem  e devido ao seu carisma e sentimento de solicitudes doces , une , de forma natural trabalho e lazer . Transforma com sabedoria o trabalho num prazer , distanciando-o, portanto,  da tarefa massante que poderia lhe causar .


            Antes mesmo dos primeiros visíveis movimentos de vida da cidade , Glória já está de pé para mais um dia . Todo dia é um desafio . Muitas vezes , após o pôr do sol , o dia, para ela , ainda não findou . Porém, quando esse momento chega, sente-se recompensada  e, merecidamente, recolhe-se ao sofá próximo da lareira , com meia taça de vinho tinto à mão e queijo branco sobre a mesa de centro. Com olhar fixo nas labaredas , pensa na vida que foi e no que há de vir . Anseia por surpresas , e boas, de preferência . Embora munida de uma ansiedade , talvez repentina, contem-se . Repousa a taça na mesa ao lado , se acomodando  no sofá  e, por fim,  adormece .


                No meio da noite , quando Glória , finalmente acorda, se dá conta de que ainda se encontra no sofá da sala . Olha à sua volta , senta-se, respira fundo e após um breve deslize nos cabelos , levanta-se para ir para o quarto . Antes de se deitar novamente, assentada na beirada da cama , tem um reencontro com a solidão . Apesar da cama de casal onde repousa seus sonhos e angústias, não desfruta de boa companhia faz alguns anos .  Glória é uma mulher só . Não lamenta a ausência física de um homem , mas , decerto , a falta do amor que esse possa lhe proporcionar  na vida . Algo que a torne completa . O amor que possa existir entre um homem e uma mulher .

Essa solidão, aparentemente habitual, começa a incomodar Glória . A sensação de desamparo, se dá, certamente,  em virtude da idade, que, como os anos , avança sem nos fazer convite .

                Mas numa manhã dessas, entre indas e vindas de afazeres no condomínio onde reside , teve a oportunidade de conhecer uma mulher de idade além da sua , que, no encontro, provocou uma conversa . Entre um assunto e outro, não perceberam as horas , a não ser a intimidade que já possuíam entre si .  Deram-se, pois , as mãos e, desse modo, caminharam alguns minutos aos arredores do condomínio; o tempo necessário a ambas . O instante  que a a vida lhes reservou para se confortarem .  Depois de algumas horas, agora à porta do apartamento de Bella , a nova amiga , trocaram carícias e cumprimentos e, antes de se despedirem, combinaram um novo encontro .

                Bella e Glória. Cada qual com suas histórias, desenganos, paixões e saudades . Apesar de morarem alguns anos no mesmo lugar, bem próximas , nunca haviam se encontrado. Nem mesmo brevemente com um aceno ao longe , um bom dia , um boa tarde ... Misteriosamente esse encontra jamais se deu, a não ser naquela manhã de tantos afazeres e rotina que causava à Glória outra coisa senão melancolia e um profundo desapego da vida .  O semblante abatido não escondia a insatisfação e a falta de ânimo para as coisas mais simples. Mas aquele dia fora diferente ! E não somente para Glória, mas para Bella também,  eis que essa , de anos mais à frente daquela, se sentia mais infeliz , desmotivada . Viúva , com a visão prejudicada em face de um problema adquirido após alguns anos , limitando-a ao que mais gostava de fazer durante seu estado de solidão, a leitura , encontrou na nova amiga uma centelha de esperança , de vida .

                Glória trazia consigo alguns descontentamentos na seara do amor . Colhera, ao longo do caminho , paixões, amores secretos ...Mas, sobretudo , desilusões . O pensamento cético em relação aos homens, estava intimamente ligado a sua incredulidade no amor . Custava-lhe acreditar nesse sentimento, eis que , escrava desse mesmo sentimento o qual não se desvencilhava de modo algum, tornava-se uma mulher fria , sem vida .






                Mas agora tudo parecia diferente . Como uma fagulha , ao fundo da lenha , na lareira , despertara para a vida .  Da mesma maneira , a fagulha que se transformara em chama , batia à porta de Bella , lhe proporcionando o calor da vida . A vida que até então era fria , como a manhã daquele dia , antes da  chegada de Glória .

                Era a primavera de vento frio , de flores espalhadas por todos os cantos aflorando as almas de toda gente .


                Glória e Bella , assim como as flores em derredor , enfeitavam a si mesmas , regavam-se , renovavam-se , fossem ramalhetes ou ramos ; pétalas de rosa ; azaléias , violetas ; margaridas ... , flores do campo !

                Aquela primavera, tinha o frescor próprio , diferente de todas as outras primaveras . No meio de inúmeras flores , a primavera , singular em sua delicadeza,  era , agora,  de duas flores . Duas flores que se destacavam no centro de todas as demais . A primavera de duas flores  aflorava Glória e Bella .

(Cícero Aarão)


segunda-feira, 17 de junho de 2019

SEGREDOS DO TEU NOME





G anho o dia quando ouço tua voz ...seja ao telefone, seja quando perto, ao pé do ouvido teu . ”
E m teus olhos negros eu consigo enxergar um caminho .  Pode não ser perfeito, mas um caminho. enxergo..
R amalhete de flores brancas e amarelas , ah, eu quero ,  quero te ofertar .  
U ma ou duas noites seguidas ao teu lado , ah, eu sei muito bem seria pouco . 
Z igues zagues são os caminhos que meu coração faz para chegar ao teu . 
I sca são teus cabelos cacheados e  longos a repousar sobre minhas mãos. 
A inda invento uma nova forma de amar-te e sem demora. 


H ortências, margaridas e azaléias ao pé de tua cama e o meu olhar a namorar o teu . 
O meu caso de amor contigo eu quero crer  que não seja à toa .  
L idar com o amor nem sempre é fácil, mas  lindo é o teu silêncio ao encontro do meu . 
A h,  antes que a noite acabe eu quero mais, muito mais que um abraço teu. 
N em mesmo o despontar dos raios da manhã , hão de ofuscar o meu sentir por ti .
D a-me tua mão e vem seguir comigo ... 
A fasta o mau presságio e dança comigo  a dança do amor  


F az a tua vida a minha e faz pulsar em mim o que há em ti. 
E ncontro o teu olhar  e me encanta o dia 
R io de mim mesmo e  águas mansas  são  teu repouso  sobre a cama   
N évoa passageira  passa por ti,  e de mim eu bem sei  uma saudade .  
A ta tuas mãos às minhas que não fujo de um beijo teu . 
N o teu delicado corpo quer descansar o meu 
D eixa de graças  e um sorriso teu de graça em felicidade eu quero ter. 
E vita  sim um sonho mau e viva tão somente  

S iga o teu caminho , mas siga junto a mim .  


(Cícero Aarão) 

DEGUSTAÇÃO




Por ti tenho gosto
e não desgosto
Teu rosto,
de ti vem um gosto
O resto ?
Ah, um gesto!
Eu hoje lhe digo
sem medo e castigo
um gosto eu quero contigo
E o amargo da vida,
eu deixo no poço
E em teu umbigo
um abrigo
Contigo lhe serei muito amigo.”

(Cícero Aarão )

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A VIOLETA E A BORBOLETA




“Assentado em uma cadeira
Sobre a mesa, repouso minha maleta
Em estado somente meu,   e em gesto contrito
Tenho em  mãos meu manuscrito.

À  janela à minha frente,  descansa  meu olhar
E um sentimento  a fervilhar, em mim a  mergulhar.

É fim do dia
E no coração o amor faz moradia
Da revoada de  pássaros colho pra mim a melodia

Apesar de forte minha  rebeldia
Em minhas mãos , se achega o sol que erradia

E uma visita inesperada
Deixando a vida bem temperada
Renova-me  as forças em alegria

É borboleta em minha janela
É calmaria é toda bela
Longe de ser obsoleta
É toda minha ,
Somente minha
A  borboleta,
Minha  preferida
É violeta, é borboleta!"

(Cícero Aarão)

sábado, 4 de maio de 2019

O VENTO NA JANELA




“Um anjo me visitou . Numa dessas manhãs em que o sol não perde o hábito de repousar em minha janela, ele se chegou a mim ,  de igual modo como de algumas outras vezes , assim que acordava . No entanto, dessa vez , para minha surpresa, não veio sozinho . Trouxe consigo uma amiga . Ela vinha logo atrás de si e, de forma silenciosa, deu  início a um  passeio por todo meu quarto , enquanto eu, ao avistá-la , ia me recompondo, não perdendo a oportunidade de contemplá-la  . Ela . por sua vez, depois de  seu gesto simples , adentrando em meu mundo,  tornava-se pouco a pouco mais íntima de minhas coisas e , finalmente , desejosa de estar mais próxima de mim , veio até a cabeceira de minha cama , ficando ao meu lado .  A inevitável aproximação fez com que eu não resistisse e, por isso , tinha os olhos voltados tão somente para ela, tamanha era  sua beleza . Uma beleza incomum . colorida, muito colorida , a ponto de provocar em  qualquer um que a visse , fascinação . Mas o fato é que não existia qualquer outro ser naquele momento que pudesse admirá-la , senão eu próprio . E ela estava ali, bem perto de mim , ao meu lado, querendo ser vista, admirada ... O desejo dela era o meu ; e era de uma simplicidade enorme; de desejar o belo ,  mas o belo que viesse da alma , da própria essência do ser ; um belo que estivesse acima daquele ao qual estamos acostumados e parecemos nos contentar, sem, contudo, atentarmos , para o além do que somos capazes de ver .  
Ela descansava ao meu lado e eu a admirando . E o anjo , um pouco atrás , instrumento daquela beleza incomum que trouxera, nos admirava. Éramos três e os três se tornavam um , intimamente ligados um ao outro , talvez de forma inconsequente .
O quarto não era mais apenas um quarto , mas o quarto . Um vento harmonioso tomava conta de todos os cantos e seguido a tudo isso , a paz .
Eu fechara meus olhos por alguns instantes e após um breve descanso que meu corpo e mente mereciam, ao despertar , me dei conta de que ela com  sua beleza descomunal ainda permanecia ao meu lado , como que a zelar por mim . Antes que eu insinuasse me levantar da cama , ela, de forma antecipada, retirou-se e munida de sua delicadeza, se dirigiu à janela , a mesma por onde resolvera entrar naquele dia . Assentei-me na beirada da cama e continuava a observá-la . Antes de tomar qualquer atitude , percebi que o anjo se juntara a ela . A partir de então, tive a certeza de uma despedida . Diante da certeza , olhei para o lado oposto, atraído por um pequeno barulho e ao voltar meus olhos para o anjo e ela , à janela , me deparei  apenas com  a cortina em movimentos de vai e vem por causa do vento .
Tive um aperto no coração como nunca havia sentido em minha vida . Uma confusão de sentimentos me sobressaltou; angústia , desejos; sonhos ... saudade . Jamais me esqueceria daquele instante vivenciado por mim .
Todos os dias , pela manhã , fico à espera dela . Uma espera contínua .  O meu olhar agora limita-se à janela , à cabeceira da cama ... Mas a minha memória , Ah,  a memória!  é viva e colorida , muito colorida ; um colorido diferente dos demais já vistos por alguém . Ela era incomparável . Ela era a minha borboleta , aquela que encantou a minha manhã certo dia , com seu colorido deslumbrante . Eu ainda posso sentir o pólen que trazia consigo à minha cabeceira ,  e  ainda  sinto o frescor de suas doces asas . Ela era mais que uma simples borboleta , pois a sua beleza estava além de si . A sua beleza era a essência contida no dorso das asas., A beleza daquela borboleta, à janela , a me fitar , era a alma . A minha borboleta tinha alma e eu podia vê-la e sentí-la.”
(Cícero Aarão)

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

SIMPLICIDADE



“Ele sentia falta das coisas simples da vida . Uma troca de olhares ; um apego de mãos ; um abraço acolhedor... . 
Ao fim da tarde , antes de adentrar na casa , verificava a caixa de correios , sempre na expectativa de ser surpreendido com uma correspondência a qual considerava ser especial . Claro , de alguém que havia remexido sua alma e levava consigo num canto do coração . Porém , seus dias se tornaram nebulosos , pois permanecia à espera . A sensação que tinha era de que seu lugar na vida de quem tanto amava era sem importância e, por isso , quando se dava conta, estava a um canto qualquer , em silêncio .... 
E a vida apenas passava ...” 



( Cícero Aarão )

O ENCONTRO




"O sol está logo ali .... Um encontro com o horizonte e o mar ; com as montanhas e as matas ....
Um encontro com a vida , com alma de quem se dispõe a se renovar todas as manhãs , todos os fins de tarde ....
Um encontro com aquele que , de braços abertos , quer tão somente amar e repartir amor com todo aquele disposto a     partilhar ...."                         

( Cícero Aarão )

A CAMA E OS LENÇÓIS




“Amanheceu . As janelas abertas e a cortina , com a força do vento que vinha de fora , anunciavam mais um dia . Um frescor de vento passeava pelo quarto e  os primeiros raios de sol repousavam sobre o lençol da cama . Os corpos nus , despidos, quem sabe, de toda fragilidade e arrogância humana . O homem acordou de modo brando e,  ao seu lado , o corpo da mulher , de bruços, imóvel. Sereno, lembrava da noite passada . Um silêncio profundo reinava no quarto . Contemplava o corpo da mulher diante de si e, cuidadosamente, acarinhava os longos cabelos negros . Pouco a pouco , aproximava-se para sentir o cheiro do doce perfume e uma vontade sobrenatural o seduzia trazendo-a para si cada vez mais .

Era seu instante de paz e mesmo tendo aquela mulher ao seu lado , uma saudade dominava-o . 
Ele já sentia saudade , apesar de tê-la.  A saudade era, pois , o infortúnio da hora , porque haveria a inevitável partida .
Ele sentia saudades de si mesmo  e de tudo à sua volta .”

( Cícero Aarão )