NEGRITUDE

 

Eiá, eiá !!

Eiá , eiá !

Ei !

Ei, Um grito, um choro, um ai !

Ei Zumbi nos palmares, 

Quilombos 

Revoada de pombos!

ou será o Benedito ?

Chiba,, Chiba 

Ei , Chiba, chiba , 

chibatadas, chibatadas de sangue  . 

É caboclo, atabaque, pandeiro, é tambor 

É noite de dança

É senzala

berimbau, berimbau !!

Capoeira, capoeira !

Poeira !  

Ei, levanta poeira ! 

Poeira, 

ô, levanta poeira !

Ei, é noite 

é açoite!!

 baiana

 cocada

Ei , a roda, olha a roda , olha a roda ! 

Ei , o preto

É Sinhá 

ô senhor  

Eiá, eiá !

É mato, é moita, 

tocaia, a tocaia

ei, capataz 

Ei, Zumbi dos palmares 

Ei, ei, ei  …

 capitão do mato, ô, vem vindo

Chiba, chiba , chibatas nesse mato

Chibatas de sangue 

Arapuca, passarinho

Oxalá, lua cheia !

Ei, eiá ! 

É vida de negro

Olha o tronco, 

põe no tronco, 

olha a fome 

Pau da fome 

Pau da fome

Pau de ferro

Ei a sede 

Ei a negra solidão !

Ei, ei, ei ….

 viatura

camburão

caveirão

ô, escravidão ! 

resistem teus grilhões 

 

Olha o morro

Olha o beco 

as correntes 

Mãos e pés 

negra pele no chão

É a morte 

ei um tiro !

Vem , ô negra 

Teu sorriso, alegria 

Ei , princesa 

Ei, liberdade 

Alegoria, 

alforria …!

Ei , o ventre 

ventre livre

ventre livre, ventre livre … 

livre? 

 negro é blues

rock é negro, 

jaz,  rap,...  é negro  esse samba!!

Ei, mulata, 

mestre-sala 

ô, pandeiro , ei cuíca ! 

avenida ! avenida !

ziriguidum, ziriguidum 

xii, xiii….

ô, vem vindo a mulata 

requebra 

teu molejo , ó, mulata !

Canavial  negro

Carna, Carna, Carnaval !

ô. carnaval !

abram alas

ei vem vindo

O Otelo, Grande Otelo

e nessa aquarela

Apartheid , ei Mandela !

olha o pé

ei a bola , olha a bola 

é Garrincha 

é Pelé , rei Pelé ! 

Timbalada, negro Brown

Oba, oba é Obama 

Ah, um sonho, Luther King !

´É Gonzaga, Gonzagão

Negra a mulher

É Chiquinha Gonzaga

Cosme Velho tem seu bruxo literato  Machado 

De Casmurro, Capitu 

Policarpo de Barreto 

Cruz e Sousa , Missal e broquéis 

É negra Elza Soares 

Travessia Nascimento

Milton Santos , mestre ,  intelecto

Ei, ei, ei ……….

Eiá , eiá 

Ei , Zumbi dos palmares 

A cilada , é cilada 

os porões dos navios negreiros 

ei escravo, ei escrava 

Anastácia , resistência 

Eiá, eiá !

ei, ei, ...

Ei , negritude solidão ! 

(Cícero Aarão)

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CAMINHADA ...........

 

“Tu me abandonas pouco a pouco, me deixando ao sabor do vento… Caminho, pois sou teimoso, mas  meus passos são trôpegos. 

Quase desfaleço e antes do cair da tarde, me lanço ao sabor da rede … Quantos sonhos , quantas saudades …” 

(Cícero Aarão) 

OUTUBRO ROSA ........

 

Eis a madrugada

O inesperado

E um golpe de ar frio, o inusitado.

Eis o silêncio da noite

Um sobressalto

Um calafrio …

Eis a vida 

E o confronto inevitável

a cara da morte 

e um vento de dúvidas e suas sombras .

Um choro, 

uma angústia

e a falta de ar …

uma solidão insondável …

Eis o outubro de rosas,

de cálidas rosas

e  os espinhos em volta ...

 as feridas da alma; 

e uma eterna saudade  …

um refúgio na infância, 

o futuro, um abismo … 

Um descobrir-se constante …

um mistério, 

uma nuvem e a certeza cada vez mais distante .. 

Eis o teu ser e alma de mulher 

tua natureza solitária e frágil …

Eis a transparência ao alcance de todos .

Mas o golpe frio dos ventos da madrugada 

ah, impulsionaram-lhe  infindas emoções 

e uma dor incomum

dilacera-lhe o peito …

extirpa-lhe esperanças ...

Um sofrer contínuo, 

um caroço, 

uma surpresa

Eis a rosa de outubro

um sentimento,

e um imenso desamparo ...

eis as nuvens espessas  …

e um rio de lágrimas …

e mares de   incertezas …

e o não ser mais a mesma  …

Eis o incômodo, 

um rebelar-se e a escuridão dentro de si …

Eis um grito contido, 

a voz embargada …

Ah, tua alma de mulher ! 

Eis tua alma de mulher  toda mutilada ! 

(Cícero Aarão) 

PERCURSO

 

“Deparei-me com teus olhos doces

e uma sombra suave junto a teus cílios ….

Tentei esquadrinhar teus pensamentos, aparentemente vãos ...

porém , a mim , esse intento foi algo imposto por um profundo mistério

e teus negros cabelos lisos a repousarem sobre teus ombros,

fizeram com que eu me percorresse

e fosse em busca de múltiplas aventuras

todas contidas em minha mente.” 

(Cícero Aarão) 

PROCESSO DE FORMAÇÃO

 

Palavras justapostas

lado a lado todas postas

Primitivas, eis o começo

E eu me refaço,

eu me encontro pelo avesso

Não me dispenso

Eu tenho apreço. 

Um gesto teu, eis-me o regresso

E eu me deparo sem progresso

Mas de palavras em formação 

Eu reinvento  e derivadas faço as palavras.

Um olhar tu tens  de muito brilho

E aglutinas tuas mãos às minhas.

Uma palavra , meias palavras 

E um desejo de não suprimir palavra alguma .

Quando vieres, que seja agora

não te esqueças de teus prefixos sentimentos. 

Depois que o amor acontecer,

quero teu corpo, tua alma à minha

e sem receio, de corpo e alma , quero, oh , como quero 

os teus sufixos .

Em um dia seguido ao outro

Dia após dia, eu vou tecendo minhas palavras

as sufixais e prefixais 

que junto às tuas se aglutinam. 

Eu quero amor e todo brilho

tuas palavras 

em formação

tuas alegrias e  derivações 

múltiplos versos e composições 

Quero tuas sílabas,  tuas palavras 

teus lábios úmidos , toda canção

e em meu leito , entrelaçados 

eis a perfeita aglutinação.

(Cícero Aarão)

"O CÉU NÃO TEM LIMITES"

 

“O dia que eu for morar, definitivamente, no céu, ... Ah, sim, espero ir para o céu . Quando lá chegar, antes de os anjos abrirem a porta para eu entrar, farei um único pedido entre tantos feitos quando de minha estada na terra, se a mim for permitido fazer, é claro. Direi:  “Quero uma bicicleta, sr. anjo . Mas fique tranquilo, por favor, não precisa ser de ouro, como as ruas que meu Deus me prometera e eu tomara conhecimento reiteradas vezes, antes de vir para cá. Sim, eu quero uma bicicleta. Basta-me uma tão somente e   não precisa ser a da última moda, não ! Uma, sr. anjo !  Quero-a para fazer aquilo que sempre fizera na terra dos loucos humanos que nunca descobriram o segredo da vida : viver de coisas simples . Quero-a, sr. anjo, para pedalar por todas as ruas do céu, por toda eternidade . E se me perguntares o porquê , eu respondo: Hei de me sentir eternamente feliz , sr. anjo . Feliz, totalmente feliz  como sempre imaginei poder ser um dia .”

(Cícero Aarão)

SOMBRAS DA NOITE

 

Eis-me os mistérios da noite

É lua cheia , bem cheia

Um gato preto passou por perto

Atrás da moita, por todos os cantos, vagueia afoito um lobisomem

De mãos peludas , de afiados dentes

Se esconde e reaparece

Mas, indiferente parece  às mulas-sem-cabeças

 

É lua cheia, bem cheia

Lobos uivando  , pegadas e trilhas ,

Atrás de um arbusto, uma alma penada

 

Olha o saci, olha o saci!!

 Serelepe vem vindo com seu cachimbo na boca

baforadas ao vento , vai saltitante , vai embrenhar-se -se nas matas

 

Olha o saci, olha o saci  e um vento frio na  madrugada

 

Olha o saci, olha o saci

Será o  saci ou será curupira ?

 

É lua cheia , bem cheia

um sopro forte de ventos nas curvas das trilhas do norte

 

É  moça bonita  ,

Um olhar, uma presa,

um  vestido branco

 

É donzela, é pálida ...

É escuridão ,

É fácil e dócil  presa e perambula ...

 

É rio, é sapo

Um coveiro, uma sombra ..

 

Eis-me um uivo de lobas

Uma mulher, um vampiro ...É sangue quente nas veias

Um olhar de soslaio e  um beijo roubado ...

 

É doce ou travessura ?

 

Olha a bruxa,  olha a bruxa !

o caldeirão, colher de pau ,,,

olha a bruxa, olha a bruxa !

 

É lua cheia,  bem cheia ...

Um relógio , um pêndulo ...

é meia noite

Um mover  de tumbas

Eis  as sombras da noite ...

 

Uma mulher, um vampiro

Um gato,  um miado agudo

 

Uma caverna

Um morcego

Um beco sem saída

É encruzilhada ...

É vela

É Jack – ó- lantern

É madrugada

Eis as sombras da noite ...

(Cícero Aarão)