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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A PERSPECTIVA DO OUTRO ...............

 

A PERSPECTIVA DO OUTRO .........................................

 

Autor: Cícero Aarão

 

E diante do espelho , me deparei com meu olhar

Vi-me profundo , mas incompleto

 

Quando meu olhar cruzou o de outro alguém,

dei-me conta do olhar de minh ´alma

e,  sensível às agruras da vida ,

minha dor se fez diminuta . 

 

Enxerguei-me  de fora

e descobri, num ímpeto, o abismo existente  entre mim e outrem

 

Minhas queixas, sempre ridículas, são como grãos de areia , tamanha insignificância quando atento para o olhar de outro alguém ,

um semelhante que, embora desconhecido, atentamente,  me observa .

 

E, quem sabe, constrangido,  meus passos se tornam pequeninos

 

Meu egoísmo , mais efêmero do que nunca,

parece se expandir, mas com a força , talvez do vento, se esvai completamente.

 

Caminho pela areia fofa de uma praia afastada de toda multidão, deixando minhas pegadas.

 

Meu corpo se movimenta para frente, mas indiferente

esquecendo-se de que,  para trás, ficou alguém assentado a uma cadeira de rodas.

 

Sou acompanhado pelos olhos alheios que veem as marcas deixadas pelos meus pés ...

Mas , ainda assim , caminho ...

E sempre na tentativa de não olhar para trás , talvez por que me recuse a fazê-lo.

 

Mais adiante, não ouço , porque não quero

e quem não ouve absolutamente nada

Não suplica também  por nada , mas apenas  ouve em silêncio

E me entende pelas leituras labiais mui precisas para si

E ouve muito mais do que quem ouve mas não sente .

 

 

E quando a noite chega, meus olhos enxergam o escuro

e por causa dos meus ouvidos apurados, percebo algo atrás de uma moita

 

Eu vejo o escuro que , para o outro já é escuro há muito tempo

E, mesmo assim ,  prossigo sempre frio e indiferente ...

 

Não me dou conta de que o escuro vislumbrado por mim

está mais escuro dentro de mim  do que no outro .

Uma escuridão de insensibilidade que me faz um nada , quem sabe  um nada bem mais escuro do escuro de outro alguém ...

 

Minha aparente inteligência me faz irracional

Minha altivez aliada à insensatez , impaciente ...

E sou moldado naturalmente por minhas próprias ações frias e calculistas

 

 Meu cerebelo tão somente me equilibra

Mas não demora muito, minha arrogância me faz tropeçar

e uma morte dentro de mim acontece, antes mesmo dos meus neurônios apagarem-se .

 

Eu não enxergo e penso enxergar

Enquanto o outro que não enxerga nada

E sente mais a alma que leva consigo

E vê um mundo muito diverso do meu

onde minhas pernas e meus braços não conseguem alcançar parece ter uma felicidade incompreensível .

 

Eu, assim como tantos outros, me garbo de minha existência

Mas o que minha memória não me lembra 

e que o outro mesmo  limitado se expande

e carrega consigo é  a certeza de que em  pó, um dia ,  haveremos de nos transformar .

 

E a indiferença gélida  de outrora deixará de ser tudo que eu e tantos outros imaginávamos ser para passar a ser nada, absolutamente nada ...

 

Quanto tempo levaremos eu e boa parte do mundo

para entender que o que me faz diferente do outro  e de tantos outros não é nada , a não ser um equívoco genético ,

um cromossomo a menos ,

um infortúnio que paralisa , em minutos , as correntes cerebrais

e causa todo estrago a quem sequer pediu pra nascer

mas tem ânsia de viver !

 

Quanto tempo levarei para entender que no lugar do outro , poderia ter sido eu ;

poderia ter sido um outro , qualquer outro ,

como um raio que cai em qualquer lugar

e , às vezes, ou diversas vezes , no mesmo lugar !

Sim , tudo pode acontecer !

 

Que logo ali mais adiante , tudo pode mudar !

E o que era perfeito se faz imperfeito

Que o que era claro passa a escuro

Assim como o dia se faz noite ,

A tempestade em calmaria ;

o ódio em amor

ou a infelicidade do inverso

que pode atingir qualquer um !

 

Quanto tempo levaremos para transmudarmos

Para amar mais do que devemos

Perdoar , sem que haja motivo , mas perdoar voluntariamente!

 

Quanto tempo levaremos para uma nova perspectiva ?

Uma nova perspectiva !

E sermos , por um segundo ....

Um segundo talvez baste a todos nós para sermos o outro

E ao ser o outro , levar consigo a verdadeira perspectiva da vida

A perspectiva do outro ...

A perspectiva do outro ignorada por todos nós.


(Cícero Aarão)