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TALVEZ PARA QUEM APENAS ACREDITA –
“Quando menino, próximo ao
parapeito da janela de meu quarto ou mesmo em outro canto qualquer onde pudesse ver a paisagem de fora , nos
dias sobretudo chuvosos , de nuvens carregadas, ficava intrigado o porquê de
tudo aquilo . Mais intrigado ainda ficava , em ver o cinzento do dia em uma cidade como a do Rio de Janeiro, minha
terra natal, ou outra similar detentora da beleza dos mares e suas praias . Eu
sempre achava que tempos assim não combinavam nem um pouco com o Rio de Janeiro
, especialmente nas imediações do Cristo Redentor , bem como no Pão de Açúcar .
Teimava em achar – e continuo a pensar desse modo – que o Rio só combina com
sol e seus raios repousando sobre os mares e a baía de Guanabara . Contudo,
esses desejos íntimos pelos quais vivenciamos , nem sempre ocorrem na realidade
e, por isso, nos frustramos muitas vezes . Em dias de férias ou feriados
prolongados então, nem se fala ! Em dias
como esse, somos cerceados de ir à praia ou realizar um passeio numa área verde
da cidade .
Mas o fato é que , em uma dessas
ocasiões de chuvas torrenciais na cidade , onde as maiores vítimas são as
pessoas da comunidade bem próximas das
encostas, o meu incômodo por aquele mau
tempo persistia e embora estivesse incomodado com a paisagem nada aprazível, matutando,
continuamente , querendo uma resposta imediata, à medida que via as gostas de chuva , cheguei
à conclusão de que não era raiva , descaso , nem tampouco castigo vindo da
parte de Deus , mas sim a tristeza latente do espírito divino que ,
copiosamente , derramava-se pelas ruas e becos , por todos os caminhos que nos
levassem ao mar ou à montanha . Estava
convicto:. Deus chorava muito, muito mesmo . Derramava-se em lágrimas
constantes. No meio de choro convulsivo, tamanha emoção que tinha consigo e silenciosa, vez por outra, deixava cair sobre
a terra descargas elétricas , rajadas de vento... Um lamento profundo sobre
tudo que via abaixo de seus olhos . A chuva , que se dava de maneira intensa
era simplesmente porque Deus chorava de tristeza, de muita tristeza pelos
feitos humanos . Eu chegara à essa conclusão
e tivera certeza de que , momentaneamente, Deus não podia ou não queria
fazer absolutamente nada , senão chorar, chorar sua dor .”
(Cícero Aarão)
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