A
PERSPECTIVA DO OUTRO .........................................
Autor:
Cícero Aarão
E
diante do espelho , me deparei com meu olhar
Vi-me
profundo , mas incompleto
Quando
meu olhar cruzou o de outro alguém,
dei-me
conta do olhar de minh ´alma
e, sensível às agruras da vida ,
minha
dor se fez diminuta .
Enxerguei-me de fora
e
descobri, num ímpeto, o abismo existente
entre mim e outrem
Minhas
queixas, sempre ridículas, são como grãos de areia , tamanha insignificância
quando atento para o olhar de outro alguém ,
um
semelhante que, embora desconhecido, atentamente, me observa .
E,
quem sabe, constrangido, meus passos se
tornam pequeninos
Meu
egoísmo , mais efêmero do que nunca,
parece
se expandir, mas com a força , talvez do vento, se esvai completamente.
Caminho
pela areia fofa de uma praia afastada de toda multidão, deixando minhas
pegadas.
Meu
corpo se movimenta para frente, mas indiferente
esquecendo-se
de que, para trás, ficou alguém
assentado a uma cadeira de rodas.
Sou
acompanhado pelos olhos alheios que veem as marcas deixadas pelos meus pés ...
Mas ,
ainda assim , caminho ...
E
sempre na tentativa de não olhar para trás , talvez por que me recuse a
fazê-lo.
Mais
adiante, não ouço , porque não quero
e quem
não ouve absolutamente nada
Não
suplica também por nada , mas
apenas ouve em silêncio
E me
entende pelas leituras labiais mui precisas para si
E ouve
muito mais do que quem ouve mas não sente .
E
quando a noite chega, meus olhos enxergam o escuro
e por
causa dos meus ouvidos apurados, percebo algo atrás de uma moita
Eu
vejo o escuro que , para o outro já é escuro há muito tempo
E,
mesmo assim , prossigo sempre frio e
indiferente ...
Não me
dou conta de que o escuro vislumbrado por mim
está
mais escuro dentro de mim do que no
outro .
Uma
escuridão de insensibilidade que me faz um nada , quem sabe um nada bem mais escuro do escuro de outro
alguém ...
Minha
aparente inteligência me faz irracional
Minha
altivez aliada à insensatez , impaciente ...
E sou
moldado naturalmente por minhas próprias ações frias e calculistas
Meu cerebelo tão somente me equilibra
Mas
não demora muito, minha arrogância me faz tropeçar
e uma
morte dentro de mim acontece, antes mesmo dos meus neurônios apagarem-se .
Eu não
enxergo e penso enxergar
Enquanto
o outro que não enxerga nada
E
sente mais a alma que leva consigo
E vê
um mundo muito diverso do meu
onde
minhas pernas e meus braços não conseguem alcançar parece ter uma felicidade
incompreensível .
Eu,
assim como tantos outros, me garbo de minha existência
Mas o
que minha memória não me lembra
e que
o outro mesmo limitado se expande
e
carrega consigo é a certeza de que em pó, um dia ,
haveremos de nos transformar .
E a
indiferença gélida de outrora deixará de
ser tudo que eu e tantos outros imaginávamos ser para passar a ser nada,
absolutamente nada ...
Quanto
tempo levaremos eu e boa parte do mundo
para
entender que o que me faz diferente do outro
e de tantos outros não é nada , a não ser um equívoco genético ,
um
cromossomo a menos ,
um
infortúnio que paralisa , em minutos , as correntes cerebrais
e
causa todo estrago a quem sequer pediu pra nascer
mas
tem ânsia de viver !
Quanto
tempo levarei para entender que no lugar do outro , poderia ter sido eu ;
poderia
ter sido um outro , qualquer outro ,
como
um raio que cai em qualquer lugar
e , às
vezes, ou diversas vezes , no mesmo lugar !
Sim ,
tudo pode acontecer !
Que
logo ali mais adiante , tudo pode mudar !
E o
que era perfeito se faz imperfeito
Que o
que era claro passa a escuro
Assim
como o dia se faz noite ,
A
tempestade em calmaria ;
o ódio
em amor
ou a
infelicidade do inverso
que
pode atingir qualquer um !
Quanto
tempo levaremos para transmudarmos
Para
amar mais do que devemos
Perdoar
, sem que haja motivo , mas perdoar voluntariamente!
Quanto
tempo levaremos para uma nova perspectiva ?
Uma
nova perspectiva !
E
sermos , por um segundo ....
Um
segundo talvez baste a todos nós para sermos o outro
E ao
ser o outro , levar consigo a verdadeira perspectiva da vida
A
perspectiva do outro ...
A
perspectiva do outro ignorada por todos nós.
(Cícero Aarão)
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