“Naquele
dia , ao fim da tarde , retornando de mais um dia de trabalho , antes de
adentrar a casa , verificou a caixa de correio e surpreendeu-se com uma carta .
Era anônima , o que já o deixava ansioso . Resolveu segurá-la firme sem que a mesma pudesse se desvencilhar por qualquer
motivo da palma de sua mão , amparada por seus dedos nervosos . Após abrir a
porta do apartamento , deixou a bolsa que levava consigo a tira colo sobre o
sofá , onde se recostara para repousar por alguns minutos antes dos afazeres
domésticos do fim do dia . Descansou a nuca sobre o sofá e olhou fixamente para
carta , abrindo-a , em seguida , de forma cuidadosa , quando se deparou
com a foto . A foto daquela mulher que
fora sua um dia , à mesa , com alguns poucos amigos , sorrindo . Mas o sorriso
que via , parecia-lhe triste , distante , como se estivesse à procura de alguma
justificativa pela ausência dele que a deixara . Cometera tal ato de modo
ímpeto , inesperado , vindo a se arrepender tempos depois . Mas agora aquele
homem só tinha olhares para aquela foto e custava a acreditar que estivesse
distante daquela que sempre considerou ser a sua amada . Uma parte de si estava
consigo , a contemplar a foto e a outra , na própria imagem que via . Um aperto
de saudade, uma angústia lhe tomou as entranhas e um grito silencioso , contido
, era cada vez mais forte . Aquele homem se sentira em pedaços e agora podia
entender o que é um coração dilacerado um
coração de quem sofre por tanto amar . “
( Cícero Aarão )