CARPE DIEM

"Aproveite o momento" ; "Colha o dia " . "Aproveitar a vida e não ficar apenas pensando no futuro." SEJA BEM VINDO!!!

sábado, 11 de novembro de 2017

A PROVA



Rumaram, sem demora, para o interior de Santa Catarina , para a  cidade mais próxima de onde estavam . A temperatura estava agradável, apesar do inverno se achegar devagarzinho dia a  dia .  Após a chegada ao destino e a receptividade de práxis, cada um se dirigiu ao lugar apropriado .  Ele ficara por uns instantes só , separado daquela que dentro de alguns dias seria sua esposa . Esperava de forma paciente a funcionária encarregada de orientá-lo nas escolhas . Uma variedade de camisas, calças , gravatas e sapatos encontravam-se ao seu alcance .  Mal teve tempo para admirá-los , pois as horas  passavam numa velocidade sem igual.  Mas mesmo assim arriscava a pensar com calma e fazer a escolha certa . Embora tivesse algumas dúvidas, nada era uma novidade eis que era a segunda vez que fazia tal coisa .
Quando a simpática funcionária de sorriso largo e constante,  adentrou na pequena sala,  ele imaginava chegar à conclusão das peças que levaria consigo .

- Então , senhor , já fez a escolha ? O que gostou ?- perguntou a moça a ele –

Ele , como se tivesse sido pego de surpresa , não soube o que responder e preferiu, por isso, ser auxiliado, afinal de contas a funcionária da casa  estava ali para aquilo mesmo .

Quanto ao fraque e a calça, não teve receio algum . A camisa, de mangas compridas, também . As dúvidas que surgiam se restringiam às gravatas e um botão de rosa ou cravo que deveria ser colocado em um dos lados do paletó . Não tinha pressa, optava em escolher com bastante calma e paciência e admirava-se durante o tempo que permaneceu na sala olhando-se no espelho à sua frente . Ora ficava de frente , de perfil , ajeitava o colarinho , escolhia uma gravata , retirava aquela que não lhe agradava , punha outra . tudo de forma meticulosa. A moça que o auxiliava, sempre sorridente e solícita , dava-lhe novas sugestões, reprovava escolhas feitas por ele , mas sempre com o cuidado de não desagradá-lo eis que a escolha final deveria ser a dele . Sim, as suas vontades prevaleciam .  Ele, por sua vez , incomodava-se mais por levar um certo tempo em tomar decisões e preocupava-se com a inconveniência  que estaria a demonstrar naquele momento . Contudo, a moça o deixava à vontade .  E assim tudo ia acontecendo, sem atropelos durante bom tempo . Um sapato aqui outro acolá ....Mas entre a escolha de uma camisa com  a gravata e outra , parou e fitou seu olhar em si, no espelho . E em questões de segundos se transportou no tempo passado , retornando rapidamente ao presente . Custava a acreditar que estivesse fazendo aquilo tudo novamente depois de quase vinte anos . Não era mais nem um moço , em doce idade , alguns cabelos brancos já  despontavam sutilmente. Estivera por uns segundos diante de si, mas anestesiado. A sensação que tinha era de que fisicamente estava ali, mas a alma não . E questionava-se quase que constantemente ; “é isso mesmo que quero ? Será essa a minha vida a partir de então , depois que sair daqui e retornar à cidade de onde viemos ?” Dúvidas e questionamentos que julgava serem naturais pairavam sobre sua cabeça . Ninguém poderia vê-los, porém , ele os sentia claramente . Em outro instante – aquele dia já estava findando – tinha todas as certeza e as dúvidas que até então o importunavam, se dispersaram como nuvens a se mover pelo céu anunciando uma chuva passageira . Estava certo . Nunca estivera tão certo como naquele momento em sua vida . Era isso mesmo que desejava para si . E a prova da roupa para o grande dia estava chegando ao seu fim . Uma felicidade incomum tomou-lhe por completo e ele não pensava em outra coisa senão no grande dia que se aproximava .  Seria seu casamento com a mulher que conhecera um dia e com quem queria viver o resto de sua vida . Virou-se mais um pouco – pediu à moça da loja de roupas  que o observava,  uma breve paciência – estava a terminar a prova final , apenas queria contemplar seu rosto de felicidade e se amar antes de qualquer coisa . Sorriu para si , ajeitou os cabelos , a gravata, ajustou o paletó . Considerava tudo perfeito e não tinha mais nenhuma objeção a fazer . Sorriu uma vez mais , acenando , finalmente para a moça que seria aquela roupa que iria levar . Estava feliz .
( Cícero Aarão ) 






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