domingo, 11 de novembro de 2018
DESEJO
"Eu queria a calmaria do mar, urma rede a me embalar e os sons dos pássaros, de todos os bem-te-vis a me rodear ...Eu queria a paz do pôr do sol."
( Cícero Aarão )
DIÁLOGO POLÍTICO
Manhã de quinta-feira chuvosa
no Rio de Janeiro . Dois amigos , após um café no bar de esquina do bairro onde
residem, a caminho do ponto de ônibus mais próximo ...
-
Cara, 14% dos deputados da Alerj estão atrás das grades !!
-
É , parece que a bruxa está solta.
-
Mas pera lá , com esses caras presos, quem vai representar a gente na câmara
dos deputados no Rio ?
-
E antes eles representavam ?
(
Cícero Aarão )
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
Caminhada
“Estava
decidido a caminhar e não olhar para trás. Os ouvidos se dispunham a ouvir quem
quisesse lhe dizer algo. Era manhã chuvosa. Uma chuva fina caía sobre o chão de
terra batida. Já não se importava com a roupa molhada, pois tudo que desejava naquele momento era tão
somente caminhar, mesmo que esse gesto solitário fosse para o nada. Caminhava
... e caminhava... Estava decidido.”
(
Cícero Aarão )
sábado, 3 de novembro de 2018
EU E MINHA MÃE ......Parte 1
“Bem, mais ou menos há
quatro anos , eu e minha mãe voltámos de carro de alguma visita ou da igreja ,
não me lembro ao certo . Era ela quem dirigia e eu a acompanhava , como na
maioria das vezes , no banco do carona , porém, sempre atento a qualquer coisa
que pudesse acontecer inesperadamente . Eu, na verdade , já havia observado
algum comportamento diferente de minha mãe que antecede a esse fato e, por isso
, minha atenção redobrada, sobretudo , quando ela se dispunha a dirigir .
Estávamos quase já
chegando em casa. Nessa época ela havia se mudado . Morávamos próximos um do
outro o que fazia minhas visitas a ela serem frequentes .
Antes de minha mãe
adentrar em uma rua que dava acesso a nossa – nos encontrávamos na rua
principal – o volante do carro , pareceu , por um momento , deixar de ficar sob
seu controle , o que acabou acarretando em um movimento brusco para o lado
esquerdo, exatamente para o lado da pista onde vinham os carros contrários .
Felizmente , pelo bom reflexo que disponho , imediatamente intervi com uma das
mãos, desviando o carro para o meu lado , também de forma brusca e inesperada .
Com isso , evitei um provável acidente . Chegamos em casa são e salvos , mas
não deixou de ser um susto .
Pois bem , esse susto
foi o suficiente para eu decidir por conta própria , com a ciência de meu único
irmão , já falecido , que mamãe não deveria pegar mais no carro . A partir de
então , passei a choferar para ela .
Estava decidido também
, que mamãe deveria ir a um médico , especificamente , neurologista . Mas isso
se deu , após outros fatos : começou a cair , levar tombos , do nada . Sequer
pressentia-os. Simplesmente , caía . Onde estivesse , caía . Eu consegui evitar
algumas de suas quedas, que se tornaram contínuas - Esse sintoma , acompanhado
de breves esquecimentos , fez com que eu resolvesse leva-la ao médico
neurologista a fim de averiguar todo o ocorrido . E lá fomos nós . A consulta
foi breve . Diagnóstico : Hidrocefalia . Mamãe foi diagnosticada com
hidrocefalia . Por isso , os tombos frequentes e as fortes dores de cabeça ,
praticamente diárias .
Mas lamentavelmente o
diagnóstico não se restringiu apenas a isso . Concomitante a essa novidade , a
médica diagnosticou uma demência . Mamãe saiu comigo dali acho que estática .
Creio mesmo que ela não tivesse se dado conta da gravidade do problema que se
iniciava ali ou fingia não ter ouvido nada .
Quanto a mim , saí
arrasado do consultório . A minha perplexidade se uniu ao silêncio e a um fim
de tarde sem revoada de pássaros .
Falaremos em próxima
postagem sobre acontecimentos posteriores a esse fato . Até a próxima . “
( Cícero Aarão ) .
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
- CONVERSA MÓRBIDA –
Dois
amigos caminhavam , sendo que um deles acompanhava o outro , religiosamente,
todos os anos . Era sexta feira nublada, dia de finados .
-
Pois é, amigo , você sabe muito bem que estou aqui pela nossa velha amizade e
amigo de verdade é amigo em todas as horas .
Surpreso,
de certa forma com a revelação logo nas primeiras horas da manhã, o amigo
ouvindo a confidência de seu companheiro , interrompeu a caminhada , repousando
as mãos sobre ambos os braços e olhando-o fixamente, disse-lhe :
-
Obrigado , meu querido amigo , sabia que podia contar com você , obrigado .
Após
breves revelações mútuas , sem que deixassem os sentimentos aflorarem
completamente, contiveram-se e prosseguiram na caminhada , lado a lado, quando
o primeiro , o que dera início àquela conversa, esclareceu:
-
É , mas fique sabendo o amigo que estou fazendo isso pela nossa velha amizade ,
nada mais que isso, mesmo porque não acredito nessas coisas .
-
Tudo bem , tudo bem ! – disse o outro –
E
continuaram a caminhar , agora , silenciosamente .
Após
uma boa hora de caminhada, aquele que cumpria seu voto , sobretudo em prol de
seus entes queridos , disse que , embora fosse morador do Rio de Janeiro há
alguns anos , por se ausentar por outros tantos anos , não reconhecia o lugar
por onde andavam, decerto , por causa das últimas mudanças na cidade e, por
isso , não se lembrava de jeito algum da localização do cemitério a que se
propunha estar naquela manhã .
O
companheiro notando a inquietação do amigo , perguntou o que estava acontecendo
, o que tanto o afligia naquele momento .
-
Não consigo me lembrar onde fica o cemitério , que droga !
-
Não seja por isso , pergunte ao rapazinho ali da frente , ele deve saber !
O
rapazinho estava sentado à beira da calçada, às vezes olhando para o nado , em
outros instantes, a mexer no celular que tinha consigo , quando os dois se
aproximaram .
-
Mocinho , bom dia . Por acaso você sabe me dizer onde fica o cemitério ... –
não se lembrava do nome, contudo , não foi necessário , pois , mesmo o rapaz
não voltando os olhos para os dois , devido sua compenetração no celular,
respondeu-lhes meio que de má vontade : Ah, fica mais um pouco na frente !
Acabou de passar um pessoal aqui levando o caixão de um .....
-
Tudo bem , obrigado .
E
apressaram o passo , a fim de que não perdessem de vista o cortejo e , por fim
, não soubessem, definitivamente, como fazer , até que , conforme o rapaz lhes
dissera , o grupo ia um pouco mais à frente , cantarolando bem baixinho, como
se fosse uma romaria .
E
assim sendo , juntaram-se aos demais , mantendo-se cabisbaixo em respeito .
-
Ai, Santo Deus , só você mesmo pra me tirar cedo de casa pra isso ! Onde já se
viu isso , até morto tem dia comemorativo ! Ai, ai, ai, ai !!!
-
Fica quieto , silêncio !! Olha o respeito !
-
Tá bom , tá bom !!!
E
continuaram junto com todos , quando de repente começaram a ouvir tiros que em
poucos minutos se tornaram intensos .
Sem
demora , todos de uma só vez , se jogaram no chão , interrompendo de vez o
cortejo , afinal ninguém sabia de onde viam as balas . Alguns, prontamente , se cobriram com as
flores que levavam consigo sobre a cabeça, na tentativa de , quem sabe, se
protegeram do infortúnio da hora . Os tiros acenavam para o grupo , bem como toda
região como um bom dia ou boas vindas ao local . Embora fosse dia de finados , seria difícil
imaginar que alguém daquele grupo , apesar dos descontentamentos da vida e do
dia a dia , desejasse morrer .
Mesmo
deitados , aquele que fizera a vontade do velho amigo lembrou de perguntar :
mas , a propósito de que o finado que o amigo está se propondo a visitar ,
morreu ?
-
Ah, coitado , estava com uma série de dívidas , não sabia mais o que fazer ,
além disso , descobriu ter sido traído pela mulher com seu melhor amigo – mas poucos
sabem desse pormenor – conclusão , não aguentou e numa manhã como essa, morreu
de infarte fulminante .
Não
muito perplexo , o que ouvia atentamente , assustado , de olhos esbugalhados e
trêmulos disse , ainda com dificuldade de falar , como se estivesse a gaguejar
: É, está tudo pela hora da morte !
-
Vai passar , vai passar ! Sempre passa ! Isso já virou rotina no Rio de Janeiro
! Dizia o outro de forma otimista.
-
Ai, meu Deus , eu sei que tenho pecado , eu sei que tenho reclamado da vida ! E
dando início a um choro contido , ainda disse desesperadamente : Eu não quero
morrer , não quero , não quero morrer ! Não , não , não !!!
No meio do desespero , olhou para o
companheiro de longa data , mesmo deitado de bruços sobre o asfalto, dando-lhe
a mão , confidenciou-lhe de modo sincero : meu perdoa, amigo , me perdoa por
tudo !
O
outro , recebendo o gesto do amigo , calmo , porém atento , finalizou , lhe
dizendo:
-
Calma, amigo , calma !!! Ninguém morre antes da hora !!!
(
Cícero Aarão )
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