“Ele chegou de repente na vida
daquela mulher. Talvez como um gato de pelo escuro, imperceptível, a transitar
sobre os telhados das velhas casas, afoito ... ligeiro ... Sim, fora ligeiro na
sua chegada. Silencioso, de olhar fito em sua presa, parou de súbito diante
dela.
Ela, por sua vez, perplexa, não pensava em outra coisa senão
esquadrinhar os pensamentos da personagem estática na sua frente . Mas não
conseguia tal intento e, por isso, limitou-se a apenas admirá-lo, de longe, pois tinha enorme receios de se
lançar às garras daquele gato. Garras
afiadas e certeiras, prontas para domná-la.
Os medos pairavam em derredor.
Aquela mulher estava movida aos medos que assombraram-na ao longo da vida.
Sofrera o bastante em suas paixões e não queria, de modo algum, se machucar
novamente . Não, não estava disposta a se arranhar em outras garras. Preferia
conter suas paixões, ao contrários dos devaneios daquele bichano que punha à porta
da entrada de seu quarto. Não, elta inha seus medos. Sentia-os. E o gato, ali,
parado, à espera do seu chamado, da sua permissão para recomeçar, quem sabe, a
vida, uma nova vida. O gato, de olhar penetrante, era um homem. Um homem que
chegara em sua vida, repentinamente, querendo-a como ninguém pudesse fazê-lo.
E permaneceram ali, os dois,
introspectivos, cada qual em seu mundo, em profundo silêncio. “
(Cícero Aarão)
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