CARPE DIEM

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domingo, 3 de maio de 2020

OS ASTROS





                  As últimas semanas, as noites, além de tranquilas, proporcionavam-lhe um frescor peculiar jamais sentido antes. Não era de seu hábito se recolher cedo, mas, devido a um cansaço, talvez, inesperado, após degustar um leite quente , composto de canela em pó, tendo como acompanhamento um pão torrado, na manteiga, resolveu ir para o quarto e se deitar . Deitou-se, ficando apenas à espera do sono que dava indícios de sua chegada, aos poucos, sem demora .

                        Não tardou muito, o dia amanheceu com promessas de chuva . As nuvens, avistadas por ele de uma das janelas de seu quarto, surgiam carregadas. Sentado,  ainda à beirada da cama, agradeceu pelo dia que lhe era concedido e após seu momento particular, quando tinha oportunidade de se cuidar de forma silenciosa, rumou para a cozinha para preparar o café daquela manhã cinzenta.  Ligou a tv, posicionada acima da geladeira, em volume baixo, somente para não se sentir demasiadamente sozinho . Embora isso o incomodasse de vez em quando, vinha se acostumando dia a dia com a solidão e muitas vezes, chegava a pensar que preferia que se desse assim . Afinal, não ter ao seu lado quem o importunasse fosse noite ou dia,  era um alívio do qual não queria, de modo algum, se desvencilhar, nem por decreto.

                        Enquanto passava o café na cafeteira e o pequeno pedaço de pão recebia o calor da sanduicheira, sentou-se à mesa para fazer a leitura matinal do jornal eletrônico, na internet , hábito do qual não abria mão , por considera-lo uma obrigação imprescindível.  A página carregava lentamente . O notebook passara a ser sua companhia diária e, por isso, procurava mantê-lo ligado à tomada para que sempre que desejasse, estaria ali, a seu dispor . Tinha paciência de sobra para aguardar o carregamento do site do jornal digital e no instante que aguardava, sempre em silêncio, aproveitava para pegar seu café e pão e, em seguida, de volta ao lugar onde estava o computador, sentar-se à mesa .  Nos últimos meses, criara o costume de ir à sessão dos zodíacos, apesar de não crer muito no universo dos astros. Tinha-os, contudo,  para si, apenas como instrumento de admiração nas suas horas solitárias . Mas deixando a poesia das galáxias que podiam lhe oferecer algum prazer, estava mais interessado naquele momento, em consultar os zodíacos daquela manhã, mais precisamente o signo de aquário .

                        De todos os signos, aquário aguçava um interesse maior para si, afinal, durante boa parte de sua vida, tivera, pelo menos, dois relacionamentos onde as mulheres eram exatamente aquarianas. Cada uma possuía uma forma de ser e pensar, mas certas características contidas em  ambas se assemelhavam .  A última dessas mulheres provocou marcas profundas de sentimentos dos quais não conseguia se desapegar .  A aquariana que mexera com seus sentidos , havia o deixado , tinha alguns meses e, inconformado com o desprezo pelo qual passara, procurava, de todas as formas , encontrar meios que justificassem o fato de ter sido dispensado pela mulher que tanto amou . Por isso, todas as manhãs, durante o café , se davam as consultas  aos signos do zodíaco. Tudo acontecia de modo meticuloso . Fazia um bom tempo que estudava a personalidade da aquariana que, há pouco mais de um ano ou dois , o motivava a viver , a ter brilhos nos olhos . E a consulta aos horóscopos, agora, era um de seus maiores pretextos para desvendar os mistérios que envolviam a mulher com a qual se envolveu .

Algumas das características encontradas no signo, durante sua consulta, associavam-se realmente àquela mulher . Outras, porém, nem tanto. Mas, mesmo assim, a pesquisa que passou a fazer parte da sua vida, o fascinava tremendamente. O fascínio inicial pela aquariana que casusou um rebuliço no seu coração era o jeito carinhoso e bem humorado , assim como a boa educação , qualidades próprias jamais observada por ele em outra. Os dois predicativos atribuídos àquela mulher eram suficientes para se apaixonar. Mas, além desses, o que chamava sua atenção era também a originalidade que ela trazia consigo . Assim como descrito no zodíaco, a aquariana por quem se encantara um dia, olhava o mundo de uma maneira bem diferente e expressava, sempre que lhe era dada oportunidade para isso com a coragem que as demais não tinham, mesmo porque não se importava com o que os outros pudessem dizer a seu respeito. Essa era uma qualidade que determinava a personalidade de “sua” aquariana, fazendo com que se tornasse mais atraente do que já era . E  quando ele se referia à beleza de sua amada, não se restringia ao físico que ostentava, mas a beleza interior, da alma, que aflorava naturalmente, tornando-a mais bela exteriormente. Disso ele está seguro.

Assim eram suas manhãs. Embora tivesse certeza de que não teria mais aquela mulher ao seu lado, não dispensava de forma alguma as leituras matinais do zodíaco. Ao fazê-las, era o modo que encontrava de tê-la mais perto, de tê-la diante de si, tamanha força que criava da imagem da mulher que tanto amava. 

(Cícero Aarão) 



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