Rumaram,
sem demora, para o interior de Santa Catarina , para a cidade mais próxima de onde estavam . A
temperatura estava agradável, apesar do inverno se achegar devagarzinho dia
a dia .
Após a chegada ao destino e a receptividade de práxis, cada um se
dirigiu ao lugar apropriado . Ele ficara
por uns instantes só , separado daquela que dentro de alguns dias seria sua
esposa . Esperava de forma paciente a funcionária encarregada de orientá-lo nas
escolhas . Uma variedade de camisas, calças , gravatas e sapatos encontravam-se
ao seu alcance . Mal teve tempo para
admirá-los , pois as horas passavam numa
velocidade sem igual. Mas mesmo assim
arriscava a pensar com calma e fazer a escolha certa . Embora tivesse algumas
dúvidas, nada era uma novidade eis que era a segunda vez que fazia tal coisa .
Quando
a simpática funcionária de sorriso largo e constante, adentrou na pequena sala, ele imaginava chegar à conclusão das peças
que levaria consigo .
-
Então , senhor , já fez a escolha ? O que gostou ?- perguntou a moça a ele –
Ele
, como se tivesse sido pego de surpresa , não soube o que responder e preferiu,
por isso, ser auxiliado, afinal de contas a funcionária da casa estava ali para aquilo mesmo .
Quanto
ao fraque e a calça, não teve receio algum . A camisa, de mangas compridas,
também . As dúvidas que surgiam se restringiam às gravatas e um botão de rosa
ou cravo que deveria ser colocado em um dos lados do paletó . Não tinha pressa,
optava em escolher com bastante calma e paciência e admirava-se durante o tempo
que permaneceu na sala olhando-se no espelho à sua frente . Ora ficava de
frente , de perfil , ajeitava o colarinho , escolhia uma gravata , retirava
aquela que não lhe agradava , punha outra . tudo de forma meticulosa. A moça
que o auxiliava, sempre sorridente e solícita , dava-lhe novas sugestões,
reprovava escolhas feitas por ele , mas sempre com o cuidado de não
desagradá-lo eis que a escolha final deveria ser a dele . Sim, as suas vontades
prevaleciam . Ele, por sua vez ,
incomodava-se mais por levar um certo tempo em tomar decisões e preocupava-se
com a inconveniência que estaria a
demonstrar naquele momento . Contudo, a moça o deixava à vontade . E assim tudo ia acontecendo, sem atropelos
durante bom tempo . Um sapato aqui outro acolá ....Mas entre a escolha de uma
camisa com a gravata e outra , parou e
fitou seu olhar em si, no espelho . E em questões de segundos se transportou no
tempo passado , retornando rapidamente ao presente . Custava a acreditar que
estivesse fazendo aquilo tudo novamente depois de quase vinte anos . Não era mais
nem um moço , em doce idade , alguns cabelos brancos já despontavam sutilmente. Estivera por uns
segundos diante de si, mas anestesiado. A sensação que tinha era de que
fisicamente estava ali, mas a alma não . E questionava-se quase que
constantemente ; “é isso mesmo que quero ? Será essa a minha vida a partir de
então , depois que sair daqui e retornar à cidade de onde viemos ?” Dúvidas e
questionamentos que julgava serem naturais pairavam sobre sua cabeça . Ninguém
poderia vê-los, porém , ele os sentia claramente . Em outro instante – aquele
dia já estava findando – tinha todas as certeza e as dúvidas que até então o
importunavam, se dispersaram como nuvens a se mover pelo céu anunciando uma
chuva passageira . Estava certo . Nunca estivera tão certo como naquele momento
em sua vida . Era isso mesmo que desejava para si . E a prova da roupa para o
grande dia estava chegando ao seu fim . Uma felicidade incomum tomou-lhe por
completo e ele não pensava em outra coisa senão no grande dia que se aproximava
. Seria seu casamento com a mulher que
conhecera um dia e com quem queria viver o resto de sua vida . Virou-se mais um
pouco – pediu à moça da loja de roupas
que o observava, uma breve
paciência – estava a terminar a prova final , apenas queria contemplar seu
rosto de felicidade e se amar antes de qualquer coisa . Sorriu para si ,
ajeitou os cabelos , a gravata, ajustou o paletó . Considerava tudo perfeito e
não tinha mais nenhuma objeção a fazer . Sorriu uma vez mais , acenando ,
finalmente para a moça que seria aquela roupa que iria levar . Estava feliz .
( Cícero Aarão )
( Cícero Aarão )